O instinto de proteção entre pais e filhos, é dar a própria vida pelos filhotes, apesar de não ser comum entre os peixes, esse hábito está presente na reprodução do Tucunaré. Este instinto pode ser facilmente demonstrado quando se navega pelos rios da Amazônia.
Por todo o igarapé, encontram-se várias áreas alagadas e vegetações aquáticas. Esses lagos juntos, funcionam como uma maternidade e berçário, para várias espécies de peixes, entre eles um dos mais conhecidos da Amazônia, que é o Tucunaré.
A água desses igarapés geralmente é quente e limpa, praticamente sem correnteza. Sendo o ambiente perfeito para a reprodução do Tucunaré, por isso, é bem fácil de encontrar essa espécie se reproduzindo nesses locais.
A princípio, os igarapés aparentam ser estreitos, mas eles podem chegar a profundidade de até 10 metros, seus leitos geralmente possuem uma vegetação escura e densa. Perto das margens entre os juncos, encontram-se facilmente Tucunarés se alimentando, principalmente pela manhã.
O Tucunaré procura locais que sejam limpos e com buracos para realizar a desova, esses buracos servem como um ninho para a espécie. O Tucunaré tem um ciclo de reprodução totalmente diferente de outras espécies de peixes do Brasil.
Em seguida vamos nos aprofundar mais sobre esse modo de reprodução.
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A reprodução do Tucunaré não é realizada por piracema
Apesar de a maioria dos peixes de água doce pertencer às classes do reofílicos, ou seja, eles preferem as correntezas para realizar seu processo de reprodução. Entre os peixes que preferem as correntezas para se reproduzir, temos o Pintado, Piraputanga e Curimba entre outros. Os peixes de piracema, só se reproduzem uma vez ao ano, já que para isso, eles realizam um processo de migração que pode chegar a 300 km.
Contudo, o Dourado, possui exigências ainda maiores, sua migração chega a quase 400 quilômetros, tudo isso para fazer sua desovar. Todo esse processo não é em vão! Isso é necessário para que haja queima de gordura, e o estímulo de uma glândula chamada hipófise, essa glândula é responsável pela produção do hormônio da reprodução.
Apesar da grande quantidade de ovos produzidos por essas espécies, o aproveitamento é muito baixo, chegando apenas a 0,01%. Para se ter uma ideia, para cada 1000 ovos apenas 10 alevinos se formam das espécies que precisam realizar a piracema como processo reprodutivo.
Tucunaré são peixes de águas paradas
Espécies sedentárias não migradoras, tem uma taxa menor de desova, mas conseguem uma taxa maior de alevinos, já que essas espécies têm o costume de proteger seus filhotes.
O Tucunaré faz parte dos peixes lênticos, ou seja, eles são peixes de águas lentas, que preferem desovar em águas paradas. A reprodução do Tucunaré acontece de duas a três vezes ao ano, já que ele não precisa migrar para realizar a desova. Eles são peixes territorialistas da família dos ciclídeos.
Além disso, eles têm a capacidade de nidificar, que é a construção de ninhos para desova. Eles aguardam o nascimento dos filhos e durante um bom tempo acompanham o crescimento dos filhotes.
Tudo isso, para evitar que os predadores se aproximem de seus filhotes, um comportamento raro entre os peixes. Dentre as 1600 espécies existentes na bacia Amazônica, apenas 10 espécies têm esse tipo de comportamento.
Conhecendo o Tucunaré
O nome tucunaré vem do Tupi, em que “Tucun” significa árvore e “aré” significa amigo, e isso gerou o apelido amigo da árvore. Pode-se conhecê-lo também por Tucunaré-Açu, Tucunaré-Pinima, Tucunaré-Paca, Tucunaré-Azul ou Tucunaré-Pitanga entre outros.
O tamanho do Tucunaré costuma ficar entre trinta centímetros há um metro, enquanto o peso varia entre 2 a 10 quilos. A alimentação do Tucunaré é diurna e costumam se alimentar de tudo que é pequeno e se movimenta. Ele se alimenta de pequenos crustáceos e inclusive de outros peixes. Eles raramente desistem de uma presa, as perseguindo até as conseguirem abocanhar.
Eventualmente, a alimentação deles é realizada nas margens quando a água está fria, mas quando a água esquenta, eles preferem o centro das lagoas. A noite eles costumam dormir rente ao fundo das lagoas, só se movimentando quando percebem algum movimento brusco ou predadores.
A reprodução do Tucunaré e preparação do ninho
Quando a época de acasalamento se aproxima, o macho começa a assediar a fêmea, dando várias voltas em torno dela. Eles têm a intenção de fazer com que as fêmeas se aproximem do local escolhido para colocar os ovos. Quando uma fêmea aceita seu convite, ela acompanha o macho até o local da desova.
O local escolhido para desova geralmente são superfícies duras, as mais usadas são pedaços de pedras e madeiras encontradas no fundo. A fêmea geralmente coloca de 6 a 15 mil ovos, os ovos são bem aderentes e se fixam nessas superfícies. Após se fixarem os machos veem e fecundam esses ovos.
Bem próximo ao local da desova, os pais já procuram preparar os ninhos para as larvas. Eles cavam e limpam a área escolhida, fazem isso utilizando as nadadeiras e a boca. Os ninhos possuem cerca de 6 a 13 centímetros de profundidade e todos são circulares. As larvas são transferidas para os ninhos assim que os ovos eclodem.
Alguns estudos científicos realizados sobre a reprodução do Tucunaré, revelaram que, águas entre 27 °C e 30 °C graus, tem as condições perfeitas para o nascimento dos ovos.
Após a fecundação nessas condições, os ovos levam em média 70 horas para eclodir. Durante todo esse período os pais se revezam para garantir a vigília dos ovos, se afastando do ninho apenas para espantar possíveis predadores.
O processo de eclosão das larvas do Tucunaré
Conforme o tempo passa, os ovos mudam de cor, na primeira fase eles ficam cinza. Logo depois amarelos, e por último, ficam cinza, em um tom quase transparente, que é a cor característica das larvas após a eclosão.
As larvas não eclodem todas de uma vez, o processo acontece de forma cronológica. Isso porque, a desova acontece em fases e não toda de uma vez. As fêmeas levam cerca de uma hora e meia a duas horas e meia para desovar todos os ovos.
O ciclo de desova acontece a cada 30 segundos em média, a taxa de nascimento é bem alta chegando a cerca de 80% dos ovos. Os ovos gorados, ou seja, que não vão eclodir, geralmente são da cor branca.
Após a eclosão essas larvas são transportadas para os ninhos, os pais aspiram as larvas e as depositam nos ninhos, para que a reprodução do Tucunaré fique segura.
O desenvolvimento dos alevinos depois da reprodução do Tucunaré
Os alevinos acabam ficando no fundo do ninho, dessa forma, eles estão protegidos pelo saco vitelino. Esse saco funciona como uma dispensa, ou seja, nele tem toda a nutrição que os alevinos precisam por cerca de 3 a 5 dias.
Durante esse período os alevinos permanecem ativos, se movimentam o tempo todo, praticando para logo sair em busca de alimento. Os ninhos geralmente ficam nas margens dos rios, a uma profundidade de 3 a 9 metros e sempre estão perto das entradas de lagoas marginais.
As espécies de predadores mais comuns do Tucunaré são o Acará Preto, Jacundás e Lambaris. Os Lambaris são os que mais atacam e destroem a desova do Tucunaré, em segundos, eles podem acabar com todos os ovos. Já na fase adulta os Lambari são a principal refeição dos Tucunarés.
Após 8 dias do nascimento, os nutrientes do saco vitelino começam a se esgotar. Nessa fase os alevinos já possuem olhos e boca abertos, por isso começam a nadar de maneira livre, mas sempre vigiados pelos pais.
Geralmente o cardume costuma ficar junto, nada apenas próximo ao ninho, o macho continua nadando ao redor do ninho, sempre há uma distância de dois metros aproximadamente.
A fêmea costuma ficar sempre ao lado dos filhotes, observando qualquer movimentação de predadores. Quando os filhotes percebem qualquer perigo, se aproximando, rapidamente eles voltam para o ninho. Caso eles não voltem sozinhos para o ninho, a fêmea vai atrás de um por um e os recolhe com a boca, para devolver para o ninho.
Proteção contra predadores
Conforme as larvas vão crescendo, a distância em que elas se movimentam ao redor do ninho também aumenta. Mas seus pais continuam ao seu redor protegendo contra os ataques dos predadores. Mesmo outros peixes da espécie, são impedidos de se aproximar demais dos filhotes.
Para tentar fugir de predadores, quando atacadas, as larvas fazem uma manobra interessante. Ou seja, elas começam a se juntar, compactando o cardume de uma tal forma que se parecem com apenas um único peixe. Dessa forma, dá a sensação de um peixe maior que seus predadores, fazendo com que eles acabem desistindo do ataque.
O crescimento e a liberdade dos pais
Quando os alevinos começam a crescer, e o rio começa a ficar sem alimentos para eles, por isso entre uma e duas semanas após o nascimento. Os filhotes acompanhados dos seus pais saem dos rios e vão para as lagoas marginais.
Nestes locais tem mais segurança e comida, permitindo dessa forma que os alevinos possam crescer e se desenvolver. Os alimentos disponíveis nesses locais são microrganismos e insetos aquáticos. Entretanto, esse tipo de alimentação dura apenas alguns dias, depois dessa fase, os alevinos do Tucunaré começam a se alimentar de filhotes de outras espécies. E é daí que surgiu a “fama” do Tucunaré de ser um peixe predador.
Os alevinos começam a sair do ninho todos juntos, realizando coreografias perfeitas! Aos poucos vão se afastando do ninho, até que todos eles cheguem a lagoa, lá eles podem se alimentar e crescer.
Após um mês e meio de vida, eles já estão com cerca de 6 centímetros, a partir daí os pais não fazem mais a proteção dos alevinos. Eles estão livres para continuar sua jornada, para que no próximo ano, esses mesmos alevinos iniciem um novo ciclo de reprodução do Tucunaré.
Informações baseada no programa – Reprodução de Tucunaré do Programa Terra da Gente.
Enfim, gostou do assunto sobre reprodução do Tucunaré? Então, acesse também Tucunaré: algumas espécies, curiosidades e dicas desse peixe esportivo
Informações sobre Tucunaré no Wikipédia
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